O sonho comanda a vida
Faz hoje (24 Nov.2006) exactamente cem anos que nasceu uma das maiores figuras da cultura portuguesa, na minha modesta opinião.
Rómulo de Carvalho foi um extraordinário investigador, cientista, professor e pedagogo. Destacou-se também como um produtivo divulgador de temas científicos, através da publicação de muitos livros onde aborda temas “difíceis” com uma linguagem clara e acessível a todos.
Com o pseudónimo de António Gedeão, consagrou-se como um dos grandes poetas do século XX em Portugal. Poema para Galileo, Lágrima de Preta, Pedra Filosofal, são os seus poemas mais conhecidos. Este último tornou-se uma “bandeira” para a juventude dos finais dos anos sessenta / princípio dos anos setenta em Portugal, na sequência da canção composta por Manuel Freire e apresentada no famoso programa televisivo Zip-Zip em 1968.
Aqui fica a minha homenagem a este grande homem, aconselhando a todos que vejam (ou gravem) hoje, 6ª feira 24 Nov., um programa de retrospectiva que vai passar na RTP 2: às 23:30.
A quem puder, aconselho também uma visita à exposição “ANTÓNIO É O MEU NOME” sobre Rómulo de Carvalho/António Gedeão patente até 6 de Janeiro de 2007, na Biblioteca Nacional , em Lisboa - Campo Grande, 83 - Tel.: 217 982 000 2ª a 6ª - 10h00-19h00 Sábados até ás 17h30 Encerra aos domingos. Entrada gratuita.
Mais informação :
JL – Jornal de Letras Artes e Ideias nº 943 ( 22 Nov a 05 Dez 2006) desta quinzena
http://www.instituto-camoes.pt/cvc/ciencia/p24.html
http://www.citi.pt/cultura/literatura/poesia/antonio_gedeao/biografia.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/R%C3%B3mulo_de_Carvalho
http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=3776&op=all
Pedra Filosofal (1956)
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
fotografia de : Eduardo Gageiro
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